sábado, 12 de fevereiro de 2011

QUASE UM CONTO (Vitorino Rodrigues)


   
Tanto rio. Água de beber mesmo não. Lágrimas que se espalham margem a fora. Soluços que vazam dos telhados. Vidas que boiam à deriva num dia de nunca mais. Olhares que se perdem vagando uma correnteza que não vaga. Que destrói sonhos, alimenta angústias.
Margem de rio. Silêncios. Som de água serpenteando dores, cerceando esperanças. Lamento de nunca ter que tragar agonia conhecida de outros temporais.
Remanso. Revoada de garranchos, fiapos de sonhos, memórias, saudade, tempo de viver, reviver. Reescrever a mesma história. Águas de março se abrindo em maior junhoral. Imagens que vem e vão e vem.
Diz-que Deus, diz-que dá, diz-que Deus dará.
Eu vou duvidar, ô nega !
Outra margem. Rio outro. Que não corre, atravancado, empilhado, soterrado, vedado. Mas sabe colher bons frutos em noites de temporal.

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